
A Missa da Bênção das Pastas 2021 teve lugar no dia 25 de julho às 11h. Naquela que foi a celebração possível, os estudantes mostram-se animados e confiantes: Afinal, foram milhares as fitas que coloriram o Estádio Cidade de Coimbra, numa cerimónia onde o preto do traje pôde, de novo, ver a luz do dia.
A manhã acordou cinzenta e Coimbra está deserta. Vemos o primeiro estudante trajado junto às monumentais, que contrasta com os conimbricenses que tomam o pequeno almoço no Pastelaria Universidade, mesmo ao lado.
Vem-nos à memória as noites de alegria e boémia passadas na praça, os festivais de tunas que avivavam o TAGV e os carros do cortejo que entupiam a rotunda do papa e toda a zona dos Arcos do Jardim.
Seguimos em direção ao estádio, onde entramos no preciso momento em que ouvem as 11 horas nos sinos da igreja de São José.
Na bancada sul, serão cerca de 1000 os estudantes que aguardam o inicio da missa da bênção das pastas, num clima sonolento e tímido mas, ao mesmo tempo, reconfortante. Afinal, quando foi a última vez que vimos um milhar de estudantes trajados no mesmo sítio? 2019, talvez? Mesmo na serenata simbólica, que teve lugar a 27 de maio de 2021, estiveram apenas 500 estudantes…
Missa da Bênção das Pastas de Coimbra 2021
A cerimónia começa e são lembrados, de imediato, os familiares dos estudantes, que tiveram que aguardar do lado de fora do estádio. O evento foi reservado apenas a finalistas de 2020 e 2021 das faculdades da Universidade de Coimbra, das Escolas do Instituto Politécnico de Coimbra, do Instituto Superior Miguel Torga e da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Todos os participantes tiveram que apresentar teste negativo ou certificado de vacinação para assistir ao evento.
Nesta Missa da Bênção das Pastas, que durou duas horas, os estudantes escutaram – uns mais atentamente que outros – a eucaristia. Vírgilio Antunes instou os estudantes a “ser para os outros”. Nesta mensagem, o Bispo de Coimbra sugere que o sentido da vida está em viver para os outros, contribuindo para a sua felicidade e crescimento.
A cerimónia teve, ainda, um cariz solidário, tendo sido recolhidos donativos destinados ao Fundo Solidário NEXT. Este fundo, a cargo do Instituto Universitário Justiça e Paz, apoia estudantes em dificuldades, mitigando, assim, o abandono do ensino superior.
Pouco faltava para o meio dia e meio quando as fitas começaram a sair das pastas, pintando as bancadas com as cores dos vários cursos, sorrisos e aplausos. Voltou a sentir-se o espírito académico e, nas bancadas, alguns estudantes choravam.
Pastas benzidas e missa terminada, houve lugar para várias tentativas (umas mais bem sucedidas que outras) de fazer a onda nas bancadas, bater palmas e, até, entoar músicas da faculdade (Vai ESEC!).

O Orgulho da Família
Acabámos por confirmar este sentimento de alegria quando saímos do estádio. Vastas centenas de pessoas – familiares e amigos – aguardavam a saída dos finalistas.
Ramos com as cores do curso, avós, mães e pais vestidos a rigor, orgulhosos dos seus filhos, alguma normalidade, finalmente. Muita alegria, finalmente!
O Testemunho dos Finalistas
Não viemos logo embora e acabámos por falar com 3 grupos de estudantes.
Pedro Coelho e Pedro Veiga, finalistas do curso de Medicina na FMUC, foram os primeiros estudantes a falar com a Rede.
Um dia depois de ficarmos a conhecer que houve quase 13.000 estudantes a desistir do ensino superior no ano letivo 2019/2020, ficámos contentes por saber que nenhum dos 2 estudantes considerou esse cenário. Pedro Coelho diz, no entanto, que a pandemia veio agravar a pressão existente sobre os estudantes, a quem a sociedade exige demasiado, demasiado cedo e demasiado rápido.
Pedro Veiga afirma que a situação pandémica acabou por desmotivar bastantes estudantes, mas nota-se o orgulho de alguém que superou 6 anos de curso e se prepara, agora, para fazer o exame de acesso à especialidade.

Já Alexandra Santos, finalista do curso de Solicitadoria e Administração no ISCAC, confessa que ponderou desistir do curso, mas ainda antes do estalar da pandemia: As dificuldades em conciliar a vida académica e os estudos acabaram por fazer com que a finalista, original de Viseu, tenha necessitado de 4 anos para terminar a sua licenciatura.
Não sabemos se por acaso, se motivados pela euforia do momento, mas os testemunhos que recolhemos, tanto junto da Alexandra e da sua amiga Mariana, como de Ana Seabra e Leandro Guimarães, finalistas da FCTUC, mostram que a pandemia não abalou a vontade de terminar o curso.
Alexandra destaca as estruturas de apoio existentes, que mitigam o risco de abandono do ensino superior. A este nível, as finalistas aplaudem o ISCAC que, neste último ano e meio, implementou todas as medidas de higiene e segurança adequadas. Também os docentes se mostraram sempre disponíveis, oferecendo o seu apoio e compreensão aos estudantes. O ensino à distância correu perfeitamente, sendo que o apoio dos professores e da própria faculdade foram determinantes para que a Alexandra conseguisse, este ano, terminar o curso.

Também Ana Seabra destaca o papel da UC, que não hesitou em tomar as medidas certas no timing correto, salvaguardando sempre o interesse dos estudantes. Leandro acrescenta que o regime misto, apesar de ter representado uma sobrecarga para os estudantes, foi bem implementado.
O Futuro da Tradição Académica
Quando olham para o futuro da tradição académica, o sentimento é misto. Tanto os estudantes da FMUC como da FCTUC antevêem que a praxe terá que se adaptar de forma a acomodar os milhares de estudantes que não passaram pelas várias etapas da vida praxista, antevendo, também, que haverá tradições que ficarão pelo caminho.
Pedro Veiga, apesar de não ser muito próximo da praxe, reconhece a importância que esta tem na integração dos estudantes, uma vez que são atividades onde se conhecem pessoas mais velhas que ajudam e orientam os mais novos no seu percurso académico. E, aqui, refere-se não só a caloiro do próximo ano, mas também aos estudantes que entraram na faculdade nos últimos dois anos.
Ana Seabra vê este momento como uma oportunidade de adaptar a praxe, defendendo uma abordagem mais focada no convívio e mais suave a nível psicológico.

Já as finalistas do ISCAC salientam que, apesar de muitas atividades de praxe terem sido suspensas, os alunos mais velhos fizeram um esforço para integrar os mais novos – mesmo num âmbito fora de praxe. Ambas estão confiantes que as tradições se irão manter, sublinhando a importância e o conhecimento acumulado dos Dux’s e comissões de praxe.
Uma nota curiosa: Sendo ambos membros da Tuna de Medicina da Universidade de Coimbra, que manteve alguma atividade durante o último ano e meio, ambos os Pedros notaram uma maior adesão de caloiros na hora de se juntarem à tuna, facto que talvez se justifique pela falta de alternativas para viver a vida académica e pela vontade de conhecer pessoas mais velhas. E, por falar em tunas, não resistimos em partilhar uma das músicas de tunas que mais sucesso fez na década passada:
E o futuro?
Tanto Ana Seabra como Leandro Guimarães se mostram confiantes no que diz respeito ao seu futuro profissional. A finalista da FCTUC recebeu uma proposta de trabalho no ano passado, que acabou por recusar para se dedicar à tese. Agora, com os mestrados terminados, os finalistas com as fitas azuis e brancas não descartam a hipótese de abraçar oportunidades no estrangeiro, mas nota-se que não sairão de Portugal à primeira dificuldade.
Alexandra e Mariana, do ISCAC, seguem para mestrado na mesma faculdade. E depois? Alexandra revela-se confiante: a faculdade deu-lhe todas as ferramentas que necessita para desempenhar a sua profissão e, com coragem e vontade, acredita que, daqui a 5 anos, terá o seu próprio escritório ou um emprego estável.
Capa Negra de Saudade no Momento da Partida
Tanto a Alexandra e a Mariana agradecem a oportunidade de participar, no final do seu percurso académico, na Missa da Bênção das Pastas. Ambas se emocionaram e confessam, “chorámos muito”, lamentando o facto de as famílias não poderem ter tido a oportunidade de assistir a este momento.
Ainda assim, parabenizam a Comissão Organizadora da Queima das Fitas, que consideram estar a fazer um bom trabalho ao reanimar a vida académica da cidade.
“Vão participar no próximo cortejo?”, é a última pergunta que fazemos a Ana e Leonardo, cujas famílias já os esperam. Os olhos dos dois finalistas brilham e consegue ver-se o sorriso nos rostos tapados pelas máscaras: “É obrigatório, Claro que sim!”, respondem.
Também os outros finalistas prometem marcar presença no próximo cortejo, ainda que já com os estudos concluídos. “Arrasar com tudo”, “Coimbra vai abaixo”, “Vão ser 3 cortejos num só!”, rematam as amigas do ISCAC.
Uma mensagem para quem vai estudar em Coimbra?
“Oh Coimbra dos doutores e dos amores que eu lá tive
Quem te não viu anda cego, quem te não ama não vive!”