
E, de repente, a partida chegou mais cedo, numa terça-feira qualquer de março de 2020.
Ficaram fitas por escrever e outras tantas por impor, pastas por grelar e nabiças com pouco sabor; as capas estão guardadas e as guitarras desafinadas; os amigos de uma vida moram longe e as noitadas académicas são agora longínquas e ternurentas lembranças.

Lidamos com a passagem do tempo acompanhados pelas memórias de um sonho, imaginárias para os mais novos mas bem reais para os mais velhos, que as choram com saudade.
Pelos mais novos, espero que esta situação atípica finalmente acabe, para que possam, enfim, (re)descobrir o mundo universitário, que, ao contrário do que conheceram até agora, não é apenas aulas, frequências, trabalhos e exames.
Aos que ainda não conseguiram viver, por inteiro, um ano letivo em total liberdade, peço que se mantenham pacientes até poderem sentir o turbilhão de emoções que vão marcar aqueles que vão ser, efetivamente, os melhores anos das vossas vidas.

Uma troca de olhares com aquele amigo é o suficiente para ir lá para fora falar sobre a vida na companhia de uma bela jola!
Que o “viver para a faculdade” se transforme em “viver na faculdade” e que esta deixe de ser uma mera instituição académica para passar a ser a vossa Casa. Não há nada como conhecer os seus cantos melhor do que a palma da nossa mão, saber que não há um dia em que não encontremos um rosto familiar e sentir orgulho em pertencer a uma comunidade tão nossa.
Que os almoços caseiros e solitários se transformem em almoços na cantina, rodeados pelos vossos. Estar a morrer de fome à 1h da tarde e ainda ter que esperar na fila do bar ou do micro-ondas deixa-nos pelos cabelos, mas o ambiente faz com que seja uma melhor opção do que comer em casa.
Que a aula no Zoom se transforme em folgas no jardim: naqueles dias solarengos em que a procrastinação fala bem alto, uma troca de olhares com aquele amigo é o suficiente para ir lá para fora falar sobre a vida na companhia de uma bela jola!

Que as noites a ver Netflix se transformem em “Quintas Mágicas”, churrascos da AE, festas de “Check-in”, noites da semana académica, o aniversário daquele colega que fez anos no natal… qualquer ocasião é propícia a uma noite de farra bem passada. Do “warm-up” até às ruas, a festa é garantida. E fiquem descansados porque os episódios da noite ficam entre vocês e a cidade que vos acolhe… e, claro, com aquelas amigas que vos aturam na viagem de autocarro às 6h da manhã e no chão de suas casas enquanto lhe roubam os cobertores.
Que se faça praxe! E sobre isto só quem vive é que sabe e sente.
Em suma, que se volte a viver com folia e com emoção, que se criem memórias e noites em branco, que se construam amizades e amores. Afinal, estes são os momentos que trarão alento aos anos que se seguirão.

Numa última nota, aos mais velhos, que tão bem conhecem esta vida, fica uma mensagem de esperança. Muito se fala do desalento causado pela falta da nossa tradição académica, de como um vírus nos separou de um tempo que também é o nosso. Contudo, também nos aproximou em empatia e sentimento – nunca praxistas e não praxistas estiveram tão unidos como nos dias de Hoje, fazendo um esforço coletivo para que, quando o dia chegar, seja possível viver tudo com maior furor: regressaremos às ruas da nossa cidade para recordar os seus segredos e construir uns tantos novos; voltaremos a abraçar-nos e reavivaremos o sentimento que nos caracteriza e que nos faz querer permanecer para “sempre estudante”!