
Si, si, dó, ré, ré, dó, si, lá, sol, sol, lá, si, si, lá, lá
Chegou um novo ano e novos desafios se nos propõem: o primeiro semestre da Presidência do Conselho da União Europeia de 2021 pertence a Portugal. O hino à alegria já foi feliz connosco em 1992, 2000, e 2007, e prepara-se, uma vez mais, para comer doces conventuais e para cantar o fado com o Zé povinho.

É a 4ª presidência Portuguesa da História da União, que, efetivamente, nos uniu (e desculpem a redundância) após a segunda Guerra Mundial, através da economia, num período inicial, e que, atualmente, nos aproxima por muitas outras causas. Todo o cidadão nacional é também um cidadão europeu. Não existe, no mundo contemporâneo, símbolo que patrocine tão gloriosamente a democracia, o Estado de Direito, e os direitos fundamentais como a União Europeia – organização pioneira e vital para a virtude que é tolerância (e isto já o dizia Montesquieu face ao comércio). O mundo ocidental define-se por uma larga camada de valores, ideais, mas também objetivos e ambições, pontos de vista e inclinações, emoções e impulsos, muito associados a este casamento plural de que todos (ou quase todos) os europeus fazem parte.
Como em todos os casamentos, existem picos de felicidade instantânea (mais ou menos satisfatórios), estabilidades verdadeiramente animadoras, e, acima de tudo, recessão e depressão aguda. Mas capaz de nos levar ao fundo do poço é, ao mesmo tempo, o psicólogo que nos mostra o caminho luzente: incondicional em ética e abastado em valor (nomeadamente por causa do Banco Central Europeu). É uma autêntica mãe. E nunca uma mãe teve tantos filhos para amar. E, embora possamos argumentar, como filhos ingratos deste século de abundância que somos, que ama mais uns que outros, uma mãe é uma mãe. Ouve-nos, aconselha-nos sem intenções malévolas, protege-nos e abraça-nos. Portugal é, durante os próximos seis meses, um dos seus filhos favoritos.
A Presidência faz-se de forma rotativa: sucedemos à Alemanha e precedemos à Eslovénia. Juntos preenchemos um período alargado de 18 meses, de forma a definir agendas concentradas por serem mais específicas e, por isso, mais atentas a certos aspetos. Portugal vai priorizar uma União Europeia mais resiliente, social, verde, digital e global, de forma a recuperar a economia de forma justa, com especial atenção à sua fragilidade atual, decorrente da crise financeira que a pandemia provocou; o que não deixa de ser algo controverso e, ariscar-me-ia mesmo a invocar para aqui o irónico, uma vez que o Portugal do sul da Europa não é o Fittipaldi da gestão económica. Mas o dever chama e nós corremos para o encontrar.
Não somos um povo cobarde (pelo contrário!), apenas temos políticos incapazes de responder aos desafios momentâneos. De qualquer forma, Portugal não é um príncipe aos olhos Maquiavélicos e, por isso, felizmente neste caso, não profetará a arte de governar a solo (de facto a união faz a força, literalmente!). Viajando por outros espectros iremos, de igual modo, trabalhar para fortalecer o pilar dos direitos sociais na UE, e fortificar a autonomia estratégica de uma Europa que se quer aberta ao mundo.

A nossa principal missão na Presidência será a de reunir com ministros ou secretários de Estado de outros países membros, com o intuito de adotar legislação e coordenar políticas. Iremos, igualmente, planear e presidir as reuniões do Conselho e representar o Conselho junto das restantes Instituições da UE. As prioridades da Presidência baseiam-se na Agenda Estratégica da União Europeia (2019-2024), tendo por base o programa de trabalhos da Comissão 2021; o que, por outras palavras, significa “desenvolver uma base económica forte e dinâmica”, “proteger os cidadãos e as liberdades”, “construir uma Europa com impacto neutro no clima, verde, justa e social” e “promover os interesses e valores europeus na cena mundial”.
É “tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital”, e Portugal está pronto. A parceria engendrada, após longas discussões, entre Reino Unido e Europa, num mundo pós-Brexit, é menos uma dor de cabeça no seu mandato. Quando ao resto: saudade é a palavra do ano 2020; esperança temos em deixá-la entrar no coração dos europeus, porque pedras no caminho vamos guardando, para no final construirmos um castelo.
Por Carolina Margarido
Este artigo marca o início de uma parceria entre a Rede e o Jornal Pontivírgula. Mensalmente, iremos dar destaque a um dos artigos da edição desta publicação produzida por um grupo de estudantes da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa. Sob a orientação de Filipe Vasconcelos, o Jornal Pontivírgula aborda temas e traz-nos análises das mais variadas áreas da atualidade, desde a Cultura à Política, passando pelo Desporto e Sociedade, entre outros. Podes seguir o Jornal no Facebook e no Instagram e consultar a edição de janeiro aqui:
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