Colaboração com o Jornal Pontívirgula

Por Catarina Pinheiro
foto: Visão/Álvaro Isidoro

Se há data que marca a história do Portugal Contemporâneo é o 25 de abril de 1974, o fim da ditadura mais longa da Europa. Um dia que começou na noite com os capitães e que triunfou de dia com o apoio do povo.

Tudo começou com os capitães descontentes com o regime e, essencialmente, com a política da continuidade da guerra colonial. Surge, então, o MFA (Movimento das Forças Armadas).
Na noite de 24 de abril de 1974 tudo começa a ser preparado com a instalação do Posto de Comando do MFA na Pontinha com seis oficiais, incluindo Otelo Saraiva de Carvalho que irá liderar as operações. Ainda nessa noite toca a canção ‘’E depois do Adeus’’ de Paulo de Carvalho, a senha do movimento.

Era já meia noite e vinte de 25 de abril de 1974 quando se ouve ‘’Grândola, Vila Morena’’ de Zeca Afonso na Rádio Renascença. A música, também ela uma senha, era uma mensagem: as operações militares tinham começado e não iriam voltar atrás.

Militares no estúdio da Rádio Renascença, no 25 de abril de 1974
Militares ocupam a Rádio Renascença | Foto: Rádio renascença via DW

Deste modo começaram a ser ocupados pontos estratégicos: RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português; Aeroporto de Lisboa; Banco de Portugal; Ministério do Exército; entre outros.
É, então, que pelas 3:45 se ouve o primeiro comunicado do MFA através da Rádio Clube português: os militares queriam acabar com a ditadura e trazer a democracia e a liberdade de volta. Por outras palavras um Golpe de Estado.

Pelas 5:45 as forças comandadas por Salgueiro Maia estacionam na Praça do Comércio, em Lisboa. Já o sol brilhava no céu quando a fragata ‘’Gago Coutinho’’, fiel à ditadura, se instalou no Tejo pronta a disparar contra os militares se necessário o que não veio a acontecer.

Nem tudo foram cravos

Contudo houve um imprevisto. O Regimento de Cavalaria 7 de Lisboa não aderira ao movimento e dirigiu-se até ao Terreiro do Paço com uma coluna de tanques poderosa. Salgueiro Maia, a sangue frio, decidiu falar com o inimigo em vez de os atacar. E através das palavras que vence os defensores da ditadura que se juntaram ao jovem capitão. O 25 de abril triunfou nesse momento.
O MFA anuncia que a situação está controlada de Norte a Sul e pouco depois Salgueiro Maia cerca o Largo do Carmo, recebendo ordens de disparar contra o Quartel do Carmo (local onde Marcello Caetano estava refugiado) de forma a forçar a rendição do Presidente do Conselho dos Ministros.

Salgueiro Maia no Largo do Carmo, a discursar no dia 25 de abril perante milhares de pessoas
Salgueiro Maia no Largo do Carmo | Foto: Eduardo Gajeiro

Por esta altura o povo, aconselhado a ficar em casa, já estava na rua ao lado dos militares. Já não era só um golpe de estado, era uma revolução e a população não ia só ficar a observar, ia participar e lutar se necessário. É nesta confusão que uma florista começa a distribuir cravos que os militares colocam no cano das espingardas e as gentes ao peito.
Marcello Caetano anuncia a sua rendição e aceita somente render-se ao general Spínola apesar deste não pertencer ao MFA. Pelas 17:45 é hasteada a bandeira branca e viva a liberdade.
Todavia se até ao momento os tiros tinham sido só para o ar e não havia mortos, tal mudaria pelas 20:00. Agentes da PIDE/DGS dispararam sobre os manifestantes e registaram-se quatro mortos e 45 feridos.

Apesar desta infelicidade, a revolução estava feita e o dia de amanhã iria abrir-se com ventos diferentes, um novo capítulo da história de Portugal começava com a apresentação da Junta de Salvação Nacional liderada por Spínola na RTP, com a rendição da polícia política, a libertação de presos políticos e o início da descolonização.

25 de abril de 2021

Infelizmente vivemos, atualmente, uma pandemia que impossibilitou as celebrações do 25 de abril como as conhecemos. No entanto, o povo português não se esqueceu da data e festejou-a dentro das possibilidades de Norte a Sul do país.

O desfile do 25 de abril voltou à rua na Avenida da Liberdade em volto de polémica. O partido político Iniciativa Liberal viu a ser-lhe negado o lugar no desfilo do dia mais importante do Portugal contemporâneo por parte da comissão promotora. Deste modo, os liberais decidiram organizar o seu próprio desfile que contou com 500 participantes a gritar liberdade.

Mas as polémicas não ficaram pela marcha que todos os portugueses conhecem. Na sessão solene na Assembleia da república grande parte dos líderes políticos realçaram a importância da revolução, bem como o combate à corrupção. O Presidente da República também aproveitou o momento para relembrar que nunca houve um Portugal perfeito. No entanto, os líderes do CDS e o do CHEGA originaram controvérsia pela cor dos seus cravos: branco e preto respetivamente.

Assembleia da República no dia 25 de abril de 2021, enquanto o presidente marcelo Rebelo de Sousa discursava
Marcelo Rebelo de Sousa discursa, no Parlamento | Foto: Assembleia da República

Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, apresentou-se com um cravo branco afirmando que esta data não é só para os ‘’vermelhos’’. Este afirmou que foram distribuídos cravos brancos e vermelhos, mas que os fotógrafos optaram por fotografar somente os encarnados pela cor estar associada à esquerda. Por fim, afirmou que Portugal precisa de se libertar da ‘’hegemonia socialista’’.

André Ventura, por sua vez, optou por utilizar um cravo preto ao peito por estar de luto pela democracia. Para além disso aproveitou para afirmar que Portugal necessita de uma nova revolução.
Por fim, Sérgio Godinho cantou, ao vivo, nos jardins de São Bento. O cantor celebra este ano 50 anos de carreira e recebeu a medalha de mérito cultural. E, como é hábito, os jardins da residência oficial do Primeiro Ministro estiveram abertos ao público com o devido cumprimento das regras sanitárias.

#25deabrilsempre

Em suma, ouviu-se ‘’Grândola Vila Morena’’ um pouco por todo o Portugal, os desfiles contaram com a presença do povo português decidido a continuar a luta pela liberdade e pela democracia ameaçadas e os internautas partilharam a #25deabrilsempre nas redes sociais.

E viva a liberdade!

 


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Capa Jornal Pontívirgula 25 de abril

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